Saturday, February 19, 2005

A "Língua" por Luiz Zanin Oricchio

Quem pôde assistir esse documentário se deu muito bem!
JeniPor Luiz Zanin Oricchio
"Todos os dias 200 milhões de pessoas sonham em Português. Esse é o número de lusófanos, espalhados por países como Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Guiné Bissau, Cabo Verde e outros. Língua, documentário de Victor Lopes, é uma bela e criativa homenagem ao nosso idioma. Anda com sua câmera por esses países todos e registra o nosso patrimônio comum - a fala das pessoas. Lopes quer registrar os ilustres falantes do português, como os escritores Mia Couto de Moçambique, José Saramago, de Portugal, ou João Ubaldo Ribeiro, do Brasil. Mas tem gosto também pela fala do homem do povo, por exemplo, comparativamente, a presença do consagrado João Ubaldo, é menor que a de um humilde baleiro e pregador Evangélico do Rio de Janeiro. A escolha tem seus motivos, não adianta você falar só com escritores, em tese, guardiões da norma culta do idioma. Mas o sabor da língua viva, falada nas ruas e nos botecos, é insubstituível. E o pregador é o máximo. Ele conta um pouco da sua vida, que frequentou na bandidagem, bebia e cheirava, e então, encontrou Jesus. E, encontrando Jesus, passou a ler a Bíblia e adotou o Jargão dos pregadores. Sua fala é uma mescla do fraseado da rua com uma norma culta adquirida tarde na vida. Um achado. Vitor Lopes vai atrás de gente assim. Fala com rappers e com um desativador de minas em Moçambique. Vai a um Shopping Center de Lisboa e conversa com jovens em geral vindos da África. Encontra descendentes Portugueses em Goa, na Índia, e descobre que estes falam o português como uma espécie de culto ao tempo passado. Segue para o Japão e ouve os dekasseguis. Fica sabendo que aqueles brasileiros de olhos puxados, que foram para a terra dos seus avôs em troca de alguns ienes, sonham em voltar para o país natal. Quando podem, fazem churrasco e batucam um samba. E, acima de tudo, falam seu idioma, o português, ponte para um país que ficou na saudade e no outro lado do mundo. Mia Couto acha que o Português é a língua européia da maior vivacidade. Isso pela multiplicidade das culturas que a praticam e as variantes que daí decorrem. Mas qualquer que seja essa variabilidade, um brasileiro se entende perfeitamente com um africano de Luanda ou com um indiano de Goa. A língua é um fator de unificação e identidade - essa palavra tão execrada mas que quer dizer só isso, que as pessoas se reconhecem como participantes de uma tradição comum, que as engloba e é maior do que elas enquanto indivíduos." "Língua Portuguesa é um organismo vivo e por isso muda" João Ubaldo